A vida bloqueada
instiga o teimoso viajante
a abrir nova estrada.

Helena Kolody

sábado, 10 de novembro de 2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

EXILADOS


 EXILADOS

Ensimesmados,
olham a vida
como exilados
fitando o mar.

Não estão no mundo
como quem o habita.
Estão de visita
num planeta estranho.

sábado, 25 de agosto de 2012

DEPOIS

 
Depois

Será sempre agora.
Viajarei pelas galáxias
universo afora.

REPUXO ILUMINADO


 Repuxo Iluminado

Em líquidos caules,
irisadas flores d'água
cintilam ao sol.

RESSONÂNCIA

 Ressonância

Bate breve o gongo.
Na amplidão do templo ecoa
o som lento e longo.

BOLA DE CRISTAL


 Bola de Cristal

Se interrogas o passado,
mente o cristal da memória
para tornar-te feliz.

A POESIA IMPOSSÍVEL


 A Poesia Impossível

Inquietação de marinheiro
Que sente o mar e seu chamado...
Não poder embarcar!

Prisioneiro do nada,
Pássaro mutilado
Que a distância fascina...

domingo, 12 de agosto de 2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

domingo, 5 de agosto de 2012

MOTIVO CIBERNÉTICO



Motivo Cibernético

Polimultiplurimáquinas
estiram os nossos nervos
nos giros da exatidão.

No campo vibrante
de circuitos e painéis,
tecniscravos apascentam
rebanhos sagrados
de monstros eletrônicos.

INTERCORRÊNCIA


Intercorrência

Entre o gesto e a sombra,
há luz e distância
e uma geometria
de ângulos e planos.

terça-feira, 31 de julho de 2012

ARAUCÁRIA

Araucária

Araucária,
Nasci forte e altiva,
Solitária.
Ascendo em linha reta
- Uma coluna verde-escura
No verde cambiante da campina.

Estendo braços hirtos e serenos.

Não há na minha fronde
Nem veludos quentes de folhas,
Nem risos vermelhos de flores,
Nem vinhos estonteantes de perfumes.
Só há o odor agreste da resina
E o sabor primitivo dos frutos.

Espalmo a taça verde no infinito.
Embalo o sono dos ninhos
Ocultos em meus espinhos,
Na silente nudez do meu isolamento.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

ANOITECER


 Anoitecer

Amiudam-se as partidas...
Também morremos um pouco
no amargor das despedidas.

Cais deserto, anoitecemos
enluarados de ausências.

VIGÍLIA


 Vigília

A noite é profunda,
Silente e de trevas.

Ao lado de teu corpo, imóvel e sereno,
Estou a contemplar-te, Pai.

Por estranhos caminhos,
Cheios de neblina,
Anda minh’alma soluçante,
A clamar por ti.

Teus olhos fitam muito longe
Um olhar imensamente triste.

A chama dos círios dança sem cessar
Em tuas pupilas mortas,
Tentando desviar tua mirada
De um ponto fixo na eternidade.

Círio recôndito,
Arde meu coração e se consome.

Há longos espinhos aguçados
Esgarçando meus nervos sensíveis.

Beijo tuas mãos pálidas e tristes,
Humildes mãos cansadas,
Agora consteladas
Por líquidos brilhantes.

Por estranhos caminhos,
Cheios de neblina,
Anda minh’alma soluçante,
A clamar por ti.

CHAMA


 Chama

Chama do Absoluto,
arde o verbo em nossa lâmpada humilde.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

PRECE


 Prece

Concede-me, Senhor, a graça de ser boa,
De ser o coração singelo que perdoa,
A solícita mão que espalha, sem medidas,
Estrelas pela noite escura de outras vidas
E tira d’alma alheia o espinho que magoa.

INFÂNCIA


Infância

Aquelas tardes de Três Barras,
Plenas de sol e de cigarras!

Quando eu ficava horas perdidas
Olhando a faina das formigas
Que iam e vinham pelos carreiros,
No áspero tronco dos pessegueiros.

A chuva-de-ouro
Era um tesouro,
Quando floria.
De áureas abelhas
Toda zumbia.
Alfombra flava
O chão cobria...

O cão travesso, de nome eslavo,
Era um amigo, quase um escravo.

Merenda agreste:
Leite crioulo,
Pão feito em casa,
Com mel dourado,
Cheirando a favo.

Ao lusco-fusco, quanta alegria!
A meninada toda acorria
Para cantar, no imenso terreiro:
“Mais bom dia, Vossa Senhoria”...
“Bom barqueiro! Bom barqueiro...”
Soava a canção pelo povoado inteiro
E a própria lua cirandava e ria.

Se a tarde de domingo era tranquila,
Saía-se a flanar, em pleno sol,
No campo, recendente a camomila.
Alegria de correr até cair,
Rolar na relva como potro novo
E quase sufocar, de tanto rir!

No riacho claro, às segundas-feiras,
Batiam roupas as lavadeiras.
Também a gente lavava trapos
Nas pedras lisas, nas corredeiras;
Catava limo, topava sapos
(Ai, ai, que susto! Virgem Maria!)

Do tempo, só se sabia
Que no ano sempre existia
O bom tempo das laranjas
E o doce tempo dos figos...

Longínqua infância... Três Barras
Plena de sol e cigarras!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

JOVEM

Jovem

Suporta o peso do mundo.
E resiste.

Protesta na praça.
Contesta.
Explode em aplausos.

Escreve recados
nos muros do tempo.
E assina.

Compete
no jogo incerto da vida.

Existe.

***


O bom e velho Rock’n’ Roll
Por Lilian Andrade


Surgindo nos Estados Unidos no início da decada de 40, sendo inicialmente caracterizado, sobretudo, por raça, nacionalidade e religião, o rock’n’ Roll brota como ritmo musical que ultrapassou as fronteiras geográficas.
Em meados dos anos 50, o Rock’n’Roll consolida-se com Elvis Presley, ocorrendo então a popularização do rock e se transformando num ícone para a indústria musical norte-americana, repercutindo na difusão e expansão do gênero musical   para o resto do mundo.
A linguagem do Rock’n’Roll sistematizou ideais, repercutindo num mundo social uniforme, tornando-se  a forma expressiva da nascente contracultura, cujas particularidades eram respaldadas por protestos e contestações políticas e sociais, além da manifestação de repulsa contra as guerras insanas da época, em especial, a Guerra do Vietnã.
Uma das repercussões sociais do Rock’n’Roll encontra-se na luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, da qual o rock com mesclas musicais de negros e brancos causou impactos sociais e culturais na Guerra Civil, cujo Manifesto pelos Direitos Civis é aprovado pela Suprema Corte, levando o movimento a abrir caminho para a aprovação da Lei dos Direitos Civis, historicamente marcado por Martin Luther King, na Marcha sobre Washington, ao pronuciar o célebre discurso: “ Sonho com dia em que meus quatro filhos pequenos viverão numa nação em que não serão julgados pela cor da pele, mas por seus méritos”.
O Rock’n’Roll presente na contracultura, onde uma das formas de contestação da revolução cultural é fortemente marcada pelo movimento hippie cujo estereótipo é evidenciado pela rejeição à sociedade de consumo industrial, desdenho às normas de comportamento e entrega infeliz ao sexo e às drogas, fazendo-se valer do rock como forma de linguagem e protesto à sociedade tecnocrática, individualista, consumista e competitiva. Também como forma de contestação, o movimento hippie defendia abertamente uma vida alternativa, desprezando tudo que pudesse ser consubstanciado como essência da agressão ao Vietnã.
O movimento hippie acreditava nas possibilidades de mudança dos parâmetros de costumes, vistos como alicerces da mentalidade social que desprezavam. O ápice da contracultura ocorreu no Festival de Woodstock numa manifestação pela paz e numa celebração pelo rock.
E por diversas partes do mundo, o rock apresenta-se como um ritmo musical de protestos, e, ainda, de composições fecundadas pelo lirismo de canções de amor, entoando uma linguagem peculiar que somente o bom e velho Rock’n’Roll possui.

13 de julho – Dia Internacional do Rock
 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

MERGULHO


 Mergulho

Almejo mergulhar
na solidão e no silêncio,
para encontrar-me
e despojar-me de mim,
até que a Eterna Presença
seja a minha plenitude.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

SONHAR

Sonhar

Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.
Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante Paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.
É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar constantemente o olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.

domingo, 1 de julho de 2012

ADVERTÊNCIA



Advertência

É meio-dia em minha vida.
Um mensageiro inesperado
Vem prevenir que apresse a lida,
Como se fosse anoitecer.

Vento da noite, ainda é cedo!
... e nem lavrei a terra agreste.

IDENTIFICAÇÃO



Identificação

Eu me diluí na alma imprecisa das coisas.
Rolei com a Terra pela órbita do infinito,
Jorrei das nuvens com a torrente das chuvas
E percorri o espaço no sopro do vento;
Marulhei na corrente inquietadora dos rios,
Penetrei a mudez milenária das montanhas;
Desci ao vácuo silencioso dos abismos;
Circulei na seiva das plantas,
Ardi no olhar das feras,
Palpitei nas asas das pombas;
Fui sublime n’alma do homem bom
E desprezível no coração do mesquinho;
Inebriei-me da alegria do venturoso;
E deslizei dolorosamente na lágrima do infeliz.

Nada encontrei mais doloroso,
Mais eloquente,
Mais glorioso
Do que a tragédia cotidiana
Escrita em cada vida humana.

POETA



Poeta

O poeta nasce no poema,
inventa-se em palavras.

LIÇÃO


 Lição

A luz da lamparina dançava
frente ao ícone da Santíssima Trindade.
Paciente, a avó ensinava
a prostrar-se em reverência,
persignar-se com três dedos
e rezar em língua eslava.
De mãos postas, a menina
fielmente repetia
palavras que ela ignorava,
mas Deus entendia.

sábado, 9 de junho de 2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

JOGO


Jogo

A morte espreita, em silêncio
O vivo jogo dos homens
No tabuleiro do tempo.

Estende, às vezes, de repente,
A longa mão feita de sombra
E tira um peão do tabuleiro. 


domingo, 27 de maio de 2012

MOMENTO


Momento

O anjo da morte estendeu
Suas asas de sombra.

Cessou a pulsação das horas.
A maré da eternidade
Cresceu em silêncio.

domingo, 20 de maio de 2012

FIO D'ÁGUA


Fio d'Água

Não quero ser o grande rio caudaloso
Que figura nos mapas.

Quero ser o cristalino fio d'água
Que canta e murmura na mata silenciosa.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

CÂNTICO


Cântico

Dono do meu sorriso e causa do meu pranto!

Se adivinhasses que, ao passar absorta,
Vou sonhando com teu olhar profundo...
E nada mais existe neste mundo,
E tudo mais na vida pouco importa.

A luz do teu olhar é a estrela solitária
Da noite deste amor, que é feito de silêncio.

Em meu enternecido coração,
O teu nome ressoa em notas graves,
Como no amplo recinto de altas naves
Um cântico de imensa devoção.

Eterno sonhador, teu vulto pensativo
vive na timidez do meu amor esquivo.

terça-feira, 15 de maio de 2012

FILME DRAMÁTICO


Filme Dramático

Aos poucos, a história me contagia.
Vibra num acorde intenso de alegria,
quando a hora da ventura é de fazer cantar.

Acre, fere-me em cheio a rajada perversa
que fustiga os heróis
Sua sorte adversa
é tão real, é tão viva, é tão minha!...
As ondas tempestuosas desse mar
se quebram, com violência, no meu peito.

Só ao terminar o filme é que percebo, arfante
que a alegria e o amargor desse drama empolgante
não eram meus, afinal.

domingo, 13 de maio de 2012

sexta-feira, 11 de maio de 2012

TRÍPTICO


Tríptico

I
Sempre me seguiu em segredo,
paralela à vida,
sombra de meu gesto,
rastro de meus passos.

Quando me cingir,
dormirei em seu regaço materno
o grande sono sem sonhos.

II
Fascina-me o sol de Teu reino,
o mistério do outro lado.
Temo, porém, as sombras do vale.
Ampara-me, Pai
na horra de passar.

III
Antes de transpor o horizonte,
percebo, enfim,
que a vida sempre foi radiosa.
A tristeza
não estava na vida.
Movara em mim.

JORNADA


Jornada

Tão longa a jornada.
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada.

PÁSSAROS LIBERTOS


Pássaros Libertos

Palavras são pássaros,
Voaram!
Não nos pertencem mais.

FELICIDADE


Felicidade

Os olhos do amado
Esqueceram-se nos teus,
Perdidos em sonho.

sábado, 5 de maio de 2012

CAIXINHA DE MÚSICA



Caixinha de Música

Firu-liru-lim...
Melodiosa filigrana
que uma bailarina
tece em gestos delicados
de porcelana e marfim.

ESQUIVAS


Esquivas

Quem se propõe a escrever
enreda-se em bruxarias.
Sempre diz menos (ou mais)
do que pretende dizer.

VITÓRIA ÍNTIMA



Vitória Íntima

Meu coração fechou as pétalas sobre os meus
sentimentos.

Como a penumbra da noite,
A meditação desceu em meu olhar
E acendeu dentro de mim a lâmpada serena.

Sozinha entre a multidão humana,
Silenciosa ao mar ululante da vida.

Submergi como um peso morto
Na fluidez espiritual do transcendente.

CALEIDOSCÓPIO



Caleidoscópio

A cada giro de espelhos,
muda o vitral da vivência.
Não permanece a figura.
Nem um desenho regressa.

domingo, 29 de abril de 2012

PÂNICO

 
PÂNICO

Não há mais lugar no mundo.
Não há mais lugar.

Aranhas do medo
fiam ciladas no escuro

Nos longes, pesam tormentas.
Rolam soturnos ribombos.

Súbito,
precipita-se nos desfiladeiros
a vida em pânico.

sexta-feira, 20 de abril de 2012